quinta-feira, 21 de junho de 2007

Do índio tupiniquim ao mundo globalizado

Frenanda Baldoti


Quem poderia imaginar que os estúdios da primeira emissora de TV brasileira foram erguidos no lugar de uma quadra de peteca? O jovem radioator Walter Forster matava o tempo jogando uma partida no pátio da Rádio Difusora de São Paulo com os radialistas Cassiano Gabus Mendes e Dermival Costa Lima quando Assis Chateaubriand chegou os empurrando e marcando aonde seriam os Estúdios A e B da futura TV Tupi. Perderam as mocinhas que ficaram impossibilitadas de verem os galãs do rádio que passavam horas ali e ganhamos nós, que hoje ligamos a TV.
A sexagenária televisão brasileira nasceu do sonho de um menino gago, raquítico, amarelo e feio. Nem mesmo o sobrenome, que se tornou o mais famoso em se tratando de meios de comunicação no país, era legítimo da família, nem tampouco representava origens européias. Chateaubriand nascera do gosto do avô paterno pelo poeta e pensador francês, e acabou sendo incorporado ao nome da família depois de fundado o Colégio François René Chateaubriand. O menino nascido em Umbuzeiro, aos 10 anos continuava analfabeto. Sua primeira cartilha foram exemplares velhos do Diário de Pernambuco e do Jornal de Recife, abandonados no porão de casa.
O homem que trouxe a novidade para o Brasil assumiu uma dívida de 5 milhões de dólares em equipamentos investindo em um negócio que não tinha sequer público consumidor, já que no Brasil não havia nenhum aparelho de televisão. Mas, isso não foi empecilho para Chateaubriand, que no dia 18 de setembro de 1950 inaugurou a PRF-3 TV Tupi, em São Paulo. Na época, havia poucos canais de televisão no mundo, não se tinha profissionais capacitados e nem tão pouco quem copiar. Tiveram que inventar uma linguagem, uma programação, ou seja, uma forma de fazer televisão. As dificuldades eram tantas, que até mesmo os ensaios eram feitos sem equipamentos. A televisão brasileira deste momento, foi feita por profissionais do rádio, ao contrário da americana, que utilizou profissionais do cinema para trabalhar nas suas primeiras emissoras.
Chateaubriand teve o privilégio de ver os experimentos da televisão em cores quando foi aos EUA fechar os contratos para trazer a TV para o Brasil. Ao ser apresentado à novidade, picou todos os contratos que havia assinado, dizendo que não iria comprar equipamento obsoleto. O diretor da RCA Victor, David Sarnoff teve que explicar que mesmo nos EUA levariam alguns anos até que a TV colorida fosse acessível ao público. As primeiras transmissões nos EUA só ocorreriam em 1966, 17 anos depois de Chatô presenciar os testes com o experimento.
Atualmente vivemos um momento parecido com o do surgimento da TV: às vésperas da chegada da TV digital no país, inúmeras dúvidas assombram os profissionais da comunicação e incertezas ficam no ar. Como na era de Chatô, não sabemos como ela será aceita pelo público, qual linguagem será utilizada, quais profissionais estarão aptos para desenvolver este novo formato, como será o mercado publicitário, etc. Os atrasos na introdução da tecnologia digital impedem o desenvolvimento social e econômico do país. Enquanto o governo não se decide qual técnica adotar para implantar a televisão digital no Brasil, seria excelente que algum político ou empresário do meio, se imbuísse do espírito de Chateaubriand e pressionasse a aceleração do processo. Só assim, poderíamos mais uma vez estar entre os primeiros a desenvolver um formato para uma nova tecnologia.

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