Rebeca Montenegro, Grupo 8
O projeto Google News foi desenvolvido nos Estados Unidos e produzido inteiramente por computadores, sem participação humana.
Quando o projeto foi lançado em setembro de 2002 houve uma enorme polêmica nos Estados Unidos sobre as conseqüências que o Google News teria para a imprensa em geral, e os jornalistas em particular. Na época foram feitas previsões apocalípticas, como a substituição gradual dos jornalistas por robôs, mas nenhuma delas se consumou, até agora.
A sacada do Google foi desenvolver um mecanismo que garimpa, hierarquiza e publica notícias produzidas por jornalistas de carne e osso em jornais, revistas, agências de noticias, sites jornalísticos, noticiários de televisão e rádio.
O sistema eletrônico desenvolvido pela empresa Google varre continuamente cerca de 200 publicações em português, no Brasil e em Portugal. O material recolhido é posteriormente processado e separado conforme a sua origem e tema para formar as edições brasileira e lusitana.
O Google News na verdade é um mecanismo chamado "agregador", ou seja, ele usa o trabalho de outros para desenvolver um produto novo. E neste caso, sem o trabalho de centenas de jornalistas de carne e osso, os robôs também ficariam sem emprego.
Diferença visível
A comparação do Google News versão brasileira com as páginas noticiosas dos principais jornais do país – durante o fim de semana 19-20/11 – deixou claras as principais debilidades do noticiário robotizado. Às 18h30 do domingo, os sites da Folha, Globo e Estadão já tinham em manchete principal o resultado do jogo entre Internacional e Corinthians, enquanto o Google News sequer mencionava o jogo.
Os robôs preferiram destacar a vitória, no sábado, do vôlei feminino brasileiro sobre a Coréia do Sul, o empate do São Caetano com o Atlético Paranaense e a derrota do Payssandu para o Vasco. Às 20h de domingo, quem visitasse o Google News brasileiro não saberia o resultado da partida ocorrida no Pacaembu, encerrada uma hora e meia antes.
Outro contraste claro: no mesmo corte de noticiário realizado às 18h30 de domingo, o Google News foi o único site a destacar a decisão de 58 familiares do terrorista jordaniano Abu Musab al-Zarqawi de condená-lo pelo atentado da semana passada em Aman, que matou 60 pessoas. Versões web da Folha, Estado e Globo não incluíram a notícia entre as quatro principais manchetes de suas edições no mesmo horário. O Google também foi o único a colocar a abertura dos arquivos da ditadura militar como a segunda manchete mais importante, no horário.
Fora o noticiário esportivo, as manchetes do Globo Online eram o recorde de bilheteria do novo filme sobre Harry Potter, a decisão da Casa Branca de escolher o Brasil como parceiro econômico privilegiado. Já a Folha Online destacou os planos para a reeleição de Lula e a guerra dentro do PSDB para a escolha do candidato presidencial do partido, enquanto ao site da Agência Estado trazia as seguintes manchetes: "CPI vai indiciar Buratti e Waldomiro" e "PT prepara reeleição de Lula".
A visível diferença de critérios na escolha de manchetes reflete a diversidade de opções feitas por cada página. Os grandes veículos escolhem suas manchetes em função da atualidade, agenda política e linha editorial da empresa. Já o Google News seleciona os temas mais importantes com base na freqüência e relevância que a matéria mereceu nos sites pesquisados.
Números de audiência
O material básico do Google News vem de fontes conhecidas como Agência Estado, Folha Online, Globo Online e Radiobrás, que têm estrutura própria para coberturas jornalísticas, mas o destaque de sua página principal acaba sendo influenciado pelas opções editoriais de veículos do interior do Brasil – como Costa Rica News (de uma cidade de 16 mil habitantes no Mato Grosso do Sul) , Jornal de Piracicaba, No Olhar (vinculado ao jornal O Povo, de Fortaleza), Diário da Serra (editado em Tangará da Serra, Mato Grosso) ou Bonde News (de Londrina, Paraná).
A empresa Google afirma que o critério de seleção de assuntos adotado em todas as suas edições em todo o mundo respeita a diversidade de políticas editoriais adotadas pelos diferentes veículos monitorados, sendo esta a razão pela qual as manchetes são tão diferentes.
Em parte isto é verdadeiro, porque as preferências de editores regionais, como o do Amazônia Jornal , acabaram levando a condenação familiar do terrorista Abu Musab al-Zarqawi a ocupar o alto da página do Google News, coisa que não aconteceria se a seleção fosse feita apenas com base nos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo-Brasília, que deram pouca importância ao assunto.
Em compensação, a diversidade temática acaba seriamente comprometida pelo fato de quase todos os veículos pesquisados se alimentarem das mesmas fontes em matéria de noticiário internacional e nacional. O enfoque e a contextualização das informações acabam sendo os mesmos, e principalmente, da Folha de S.Paulo, O Globo, Estado de S.Paulo, Valor Econômico e das agências internacionais.
O Google News é o primeiro no Brasil na linha do noticiário automático, mas o sistema já tem pelo menos três outros seguidores em todo o mundo: o Topix, o Newsbot e o Kify News.
O Google News em inglês tem uma audiência global de pouco menos de 7 milhões de visitantes únicos por mês, segundo o Instituto Nielsen/Net Ratings, em medição feita em julho de 2005. É mais do dobro da audiência do Topix no mesmo período, mas fica muito abaixo dos 23 milhões de visitantes únicos do Yahoo News (que não é automático).
Por Carlos Castilho em 22/11/2005, Observatório da Imprensa
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