Por Regina Luft
Foi em abril, há dez anos, quando o especialista em informática Dave Winer começou a escrever um diário na internet que seria conhecido como weblog - termo criado por Jorn Barger - e, atualmente, blog. Existe a polêmica se Winer foi ou não o primeiro blogeiro (Barger também é citado como o pioneiro com seu robotwisdom), mas parece certo acreditar que somente com Winer e seu Scripting News a interatividade e o que hoje nos acostumamos a ver como blogs foram finalmente consolidados.
Desde então, os blogs caminharam lentamente para assumirem um papel cada vez mais ativo na mídia convencional. Os grandes portais convidaram vários jornalistas e especialistas para criarem blogs em seus domínios enquanto profissionais como o jornalista Ricardo Noblat passaram a usá-los como mais uma ferramenta de trabalho.Jornais e blogs .
No início do mês Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R) e blogueiro do Portal G1, lembrou que houve outra situação semelhante à revolução dos blogs antes mesmo do advento dos microcomputadores. Isso ocorreu com a idéia do ourives Johannes de Gutemberg, que criou uma prensa capaz de livrar a cópia de textos da tradicional forma de disseminação através de manuscritos que monges copiavam a mão. Dali para frente a publicação de textos tornou-se mais veloz e rápida. No ambiente virtual , os blogs permitiram que qualquer usuário da internet publicasse seus textos mesmo que não soubesse nenhuma linguagem de programação.
"Em um futuro relativamente próximo, creio que blogueiros poderão se sustentar com as rendas de seus blogs. Principalmente por conta de receitas publicitárias, uma vez que o mercado paulatinamente tem se conscientizado de que blogueiros, por arregimentarem leitores fiéis, são mais eficazes junto a determinados nichos específicos do que muito banner de portal", afirma Alexandre Inagaki, jornalista e autor do blog Pensar Enlouquece.
Para ele, a blogosfera conseguiu agregar formadores de opinião que publicam textos sem os vícios da mídia tradicional.Profissionalização "Acompanhei o crescimento e a profissionalização dos blogs, na verdade acompanhei o próprio nascimento deles, então tinha uma boa idéia do potencial. Quando vi que havia uma estrutura de publicidade já funcionando no Brasl - o Google AdSense - percebi que o blog estava pronto pra dar dinheiro", revela Carlos Cardoso, visto na blogosfera como o primeiro problogger (aglutinação de professional blogger ou blogueiro profissional) brasileiro com o seu Contraditorium, que trata exatamente de como transformar blogs em veículos rentáveis. Cardoso lembra que só começou seu blog quando passou a acreditar que eles poderiam dar dinheiro.
"Na verdade já dava, mas ao invés de 100 dólares em um blog, eram 100 blogs ganhando um dólar", explica. Em outras partes do mundo, blogs que sustentam seus donos já rendem através de anúncios online, mas no Brasil isso ainda não é tão freqüente.Amadurecimento Ataques terroristas e as recentes guerras ajudaram a fortalecer o blog como mídia. Blogueiros de Nova Iorque conseguiram manter internautas informados enquanto portais tiveram problemas devido ao excesso de acesso durante o ataque às torres gêmeas em 2001. Para o jornalista Raphael Perret, mestre em Informática e pesquisador de comunicação online, outro bom exemplo de ação que consolidou a credibilidade dos blogs foi o Salam Pax, que falava sobre as dificuldades da vida no regime iraquiano de Saddam Hussein e tornou-se porta-voz dos civis iraquianos durante a guerra do Iraque, em 2002.
"Sem dúvida, uma série de episódios contribuiu para o avanço da popularidade dos blogs. No Brasil, destaco: o oferecimento de serviços de hospedagens pelos grandes portais, a publicação de colunas sociais sobre blogs nos suplementos de informática dos jornais, com a atitude pioneira do Jornal do Brasil (2001); e o lançamento de blogs pelo Globo Online, mantidos por seus jornalistas e colunistas (2003)", afirma Perret que também é autor dos blogs Butuca Ligada e Tá na tela.
De acordo com ele, estas ações apresentaram o blog aos chamados soft users, ou seja, usuários que navegam por pouco tempo na internet. Desde então, vários jornalistas passaram a assumir o blog como uma extensão do seu trabalho ou como uma forma de publicar os textos que quisessem sem a necessidade do crivo de um editor. No Comunique-se, a ferramenta Blog-se passou a ser a casa dos textos do quadrinista Miguel Paiva ou uma extensão da divertida coluna Jornal da ImprenÇa de Moacir Japiassu.Coluna eletrônica .
"Acho que cada um tem um motivo para manter um blog, depois que a ferramenta deixou aquela imagem de diário adolescente para transformar-se, pelo menos entre os jornalistas, num instrumento de exposição de idéias, notícias, comentários, ou seja, numa grande coluna eletrônica. No meu caso, o interesse é manter viva a discussão sobre assuntos que envolvam a cobertura policial", explica o jornalista Marco Zanfra, autor do Manual do Repórter de Polícia e do blog Repórter de Polícia. Zanfra lembra que, enquanto o manual, apesar das atualizações, é uma obra estática, o blog pode ser uma ferramenta para que colegas do meio mantenham-se constantemente atualizados e para que possa ser usada junto com outros trabalhos.
Para Cardoso, escritor de livros de informática e ex-redator publicitário, a carreira de blogueiro pode ser ainda mais promissora do que outras. Mesmo com tantos jornalistas na blogosfera, os blogueiros precisam saber mais do que montar o lead ou conduzir uma entrevista. De acordo com o blogueiro, um jornalista medíocre pode ser capaz de cumprir funções simples por anos em um grande veículo. A mesma regularidade não valeria se ele quisesse se sustentar pelo seu blog.
"Em um blog, ele jamais conseguirá destaque se não for bom. A principal vantagem - não ter um veículo por trás- se torna a maior desvantagem, se você for um jornalista sem grandes arroubos criativos, estilo ou imaginação. No ambiente da blogosfera acontece um darwinismo diferente. Há espaço para todos, mesmo os mais inaptos, mas isso só quer dizer que seu blog terá o direito de existir, não que alguém vá lê-lo".Fonte: Comunique-se
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