Rebeca Montenegro, Grupo 8
O presidente mundial do Google diz que a web não é mais suficiente para manter o crescimento da empresa. E prepara novos produtos para TV, rádio e celular
Eduardo Vieira
Quando o americano Eric Schmidt assumiu a presidência do Google, em 2001, o site não passava de um sistema de buscas no meio de tantos outros na internet. Hoje, além de ser considerado a empresa mais inovadora e valiosa do mundo, cotada em US$ 147 bilhões na Bolsa de Nova York, o Google tornou-se um fenômeno cultural. Grande parte desse sucesso se deve a Schmidt, de 51 anos, que foi convidado pelos fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin, para profissionalizar o comando. Em sua gestão, o faturamento da empresa passou de US$ 439 milhões para US$ 10,6 bilhões, um aumento de 2.300%. O lucro saltou de US$ 99,6 milhões para US$ 3 bilhões. Mas, à medida que a empresa fica maior, seu ritmo de crescimento diminui. De 2004 para 2005, o Google cresceu 400%. De 2005 para 2006, cresceu 73%. Para Schmidt, isso significa que é preciso inventar algo. Nem que, para isso, o Google tenha de buscar alternativas fora da internet. "Vamos procurar novas oportunidades para crescer, onde quer que elas estejam", disse Schmidt a ÉPOCA durante uma visita ao escritório brasileiro do Google, em São Paulo.
SOBRE ERIC SCHMIDT:
O QUE ESTUDOU?
Formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Princeton, é ph.D. em Ciência da Computação pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos
O QUE FEZ?
Trabalhou na Xerox, na Lucent e chefiou os Laboratórios Bell. Foi diretor de tecnologia da Sun Microsystems e da Novell. Foi convidado para presidir o Google em 2001. É o 116º homem mais rico do mundo, segundo a revista Forbes, com uma fortuna estimada em US$ 6,2 bilhões
ÉPOCA - Nenhuma empresa cresce tanto quanto o Google. Qual é o segredo?
Eric Schmidt - Não tenho uma boa resposta para essa pergunta. Nosso crescimento foi uma surpresa para todos. Acho que nos tornamos um fenômeno por causa de nossa missão, de levar todo tipo de informação para todos. Crescemos junto com o uso da tecnologia. Há cada vez mais pessoas usando internet, banda larga e celulares. Não só nos Estados Unidos, mas em todo lugar. O Brasil, por exemplo, é o país que mais cresce para o Google no mundo. Nossa missão é continuar a crescer e oferecer novos serviços ao público.
ÉPOCA - Alguns analistas afirmam que o Google é festejado demais. Que vive numa bolha prestes a estourar. O que o senhor diz sobre essa avaliação?
Schmidt - Acho que o Google tem um desafio grande de administrar seu sucesso e continuar a crescer. Nós nunca fomos perfeitos. Não somos perfeitos. Nem seremos. Cometemos erros. O que fazemos melhor que os outros, talvez, é corrigir nossos erros tão rapidamente que quase ninguém percebe. Portanto, a resposta é não. Não há uma bolha. Não acho que o Google seja festejado demais. Teríamos um problema sério se usássemos nosso poder para tratar mal os usuários. Mas não fazemos isso. Se mantivermos a capacidade de respeitar e tratar bem os internautas, oferecendo serviços relevantes, vamos continuar fazendo sucesso.
ÉPOCA - O senhor disse que o Google comete erros. Qual foi o maior deles?
Schmidt - Somos criticados por tudo. Mas nosso maior erro foi nos mover de forma vagarosa em algumas áreas em que poderíamos ter ido mais rápido. Não direi quais, obviamente. No resto do tempo, cometemos erros pontuais, comuns a qualquer empresa. Há algumas semanas, por exemplo, cometemos um na China (o Google admitiu que plagiou um programa usado pelo site Sohu.com, seu maior concorrente naquele país). Pedimos desculpas aos usuários.
ÉPOCA - O Google é muito criticado por depender de um único modelo de negócios, baseado totalmente em publicidade on-line. É um ponto fraco da empresa?
Schmidt - A propaganda on-line representa 97% ou 98% de nossas receitas. Não podemos abandonar uma fonte tão grande quanto essa, que nos rendeu US$ 10 bilhões no ano passado. Mas sempre pensamos em alternativas.
ÉPOCA - Quais?
Schmidt - A primeira é o Google Apps, um serviço que oferece software na internet para empresas. Ele está indo muito bem e poderá representar uma grande fonte de receitas para nós no futuro. Além disso, estamos estudando formas de ganhar dinheiro com anúncios em outras mídias, como o rádio e a TV. Já temos pilotos nos Estados Unidos. Tentamos lançar produtos que tinham a ver com mídia impressa no passado. Erramos e mudamos. Agora vamos tentar de novo. Essa é nossa filosofia. Se um produto não dá certo, mudamos e tentamos consertar os erros. Em outras empresas, se uma pessoa comete um erro, ela é demitida. No Google, ela tenta de novo. Ainda estamos aprendendo como nosso modelo de negócios funciona fora da internet. Estamos trabalhando. Também acompanhamos de perto o crescimento do mercado de celulares.
ÉPOCA - Muito se fala sobre a criação de um celular do Google. É verdade?
Schmidt - Se você fizer uma busca no Google sobre o GooglePhone, verá que as pessoas estão muito confusas sobre o que nós faremos em relação a esse assunto. A razão para isso é que ainda não temos nada para anunciar. A resposta a sua pergunta é sim, pode ser que sim. E não, pode ser que não. Não falamos sobre produtos que ainda não foram lançados.
ÉPOCA - Como o Google está acompanhando o mercado de celulares?
Schmidt - Sabemos que ele é bem maior que o de computadores. Os PCs passam por um momento de crescimento espantoso no mundo todo, mas eles não são a tecnologia que mais cresce. Há 2 bilhões de usuários de celulares no mundo, contra 1,2 bilhão de usuários de internet. Nos próximos três ou quatro anos, teremos 3 bilhões de celulares em circulação. A internet ficou pequena perto dos telefones móveis. Acreditamos que grande parte dos acessos à web, no futuro, vai acontecer pelos telefones móveis. Estamos trabalhando para essa realidade. Uma aplicação óbvia é agregar nosso serviço de mapas, o Google Maps, aos celulares que têm GPS. É um caminho.
ÉPOCA - Qual será a estratégia do Google para manter o ritmo de inovação com operações tão diversificadas?
Schmidt - O segredo é dar autonomia às áreas de negócio. Um grande exemplo disso é o YouTube. Os fundadores do negócio, Steve Chen e Chad Hurley, continuam tocando a empresa sozinhos. Às vezes concordo com eles, outras vezes não. Eles são funcionários do Google, subordinados a mim. Mas eles entendem mais do YouTube que eu. Ter funcionários com autonomia para investir no que acreditam faz a diferença para os negócios do Google.
ÉPOCA - Até quando vai durar a lua-de-mel dos internautas com o Google?
Schmidt - Espero que para sempre. Cerca de 380 milhões de pessoas usam o Google todos os meses. Enquanto resolvermos os problemas desses usuários e criarmos novos produtos e serviços interessantes, seremos vistos como inovadores, jovens e valiosos. Meu desafio é manter esse status. Se perdermos a capacidade constante de transformação que nós temos, a lua-de-mel terá chegado ao fim.
Por Eduardo Vieira em 30/04/2007, Revista Época
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